A obra “Histórias Lindas de Morrer”, foi
escrita pela autora Ana Claudia Quintana Arantes, que é médica formada pela
USP, e há 20 (vinte) anos atua com cuidados paliativos.
A obra é dotada de enorme sensibilidade, a Dra.
Ana aborta um tema muito delicado, que é a terminalidade da vida, a partir de
relatos verídicos de casos clínicos em que atuou, ou teve conhecimento em
decorrência de sua profissão.
Muitas histórias são abordadas, e o leitor é
exposto à natureza humana, os personagens vivem suas emoções e vivenciam a sua
própria terminalidade à própria maneira. Há os que preferem declarar que
ficarão curados, e negam a proximidade da morte, há os que a aceitam e
acreditam que cumpriram a sua missão nesse plano, e serenos vivenciam as suas
últimas experiências. Há quem vivencie extrema dor, e inconformismo com a
crueldade da vida. Cada ser humano vive uma experiência única e singular.
Na obra percebemos o quão difícil pode ser para
a família do doente lidar com a perda, e como a preocupação e o inconformismo
de um membro da família é capaz de “segurar” neste plano, um indivíduo que
precisa partir.
Um dos relatos que mais me marcou é o de um
adolescente de 13 (treze) anos, que diante de uma doença terminal, pediu para
permanecer em casa, e não ser novamente internado. Em sua residência ele
recebia os cuidados paliativos, afim de aliviar as suas dores e desconfortos. O
menino tinha consciência disso, e estava em paz com a sua própria finitude.
Porém, era grande a preocupação com a sua mãe e com o seu pai, o jovem
confidenciou isso ao seu médico.
A mãe do garoto insistia em negar a terminalidade
do filho, e constantemente clamava por sua cura. A percepção da angústia da mãe,
e a preocupação também com o pai, acabava por “segurar” o menino nesse plano.
O garoto estava subsistindo em um corpo
debilitado e muito doente. Os médicos não compreendiam como ele ainda vivia, quando
todas as condições clínicas eram incompatíveis com a vida, era perceptível o seu
sofrimento. Após examinarem e medicarem o rapaz. A dra. Ana Claudia percebendo a situação
disse: - “Olha, por toda a experiência que eu tenho, sei que as pessoas só
morrem quando tem permissão...” Era a dor e o inconformismo dos pais que
estavam fazendo o menino ficar preso à matéria, sua preocupação o impedia de se
desligar. Em determinado momento os pais conversaram com o filho e lhe disseram
que eles ficariam bem e o jovem poderia partir tranquilo. Em menos de 24 horas
o garoto morreu tranquilo de mãos dadas com os pais.
Ao ler esse relato percebi o quanto somos
egoístas, ao ver alguém que amamos partindo, insistimos para que fique, a
qualquer custo, e nos preocupamos mais com o nosso próprio sofrimento do que
com o alívio de quem precisa partir.
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